Tenho observado um movimento silencioso, mas impactante, na gestão corporativa europeia: a transformação da comunicação interna impulsionada por inteligência artificial. O que antes era um canal institucional padronizado, hoje passa a operar com algoritmos que segmentam, personalizam e até predizem o comportamento informacional dos colaboradores. A mudança não é apenas técnica. Ela altera o papel da liderança, o senso de pertencimento dos profissionais e a fronteira entre eficiência e controle.
Conforme o relatório The Future of Work do World Economic Forum (2024), mais de 65% das grandes empresas europeias já utilizam ferramentas baseadas em IA para aprimorar a comunicação interna. Plataformas como Slack, Microsoft Viva e Staffbase vêm integrando modelos de linguagem natural que adaptam o tom e o conteúdo das mensagens com base no perfil do leitor. A promessa é clara: reduzir ruído, melhorar o engajamento e facilitar a alocação de informações críticas. Mas há riscos. A personalização extrema pode reforçar bolhas internas, reduzir a diversidade de pontos de vista e dificultar a transparência organizacional.
Vejo essa tendência como um reflexo direto da mudança de expectativa em torno do papel do colaborador. Espera-se que ele atue com agilidade, autonomia e alinhamento estratégico — e a IA entra como ponte entre a informação e a ação. No entanto, quando sistemas analisam padrões de leitura, tempo de resposta ou reações emocionais às mensagens, surgem preocupações legítimas sobre privacidade e governança de dados. A General Data Protection Regulation (GDPR) estabelece salvaguardas, mas sua aplicação nem sempre acompanha a velocidade da inovação tecnológica. Algumas organizações já enfrentam questionamentos sindicais sobre o uso excessivo de tracking de comportamento digital sob o pretexto de “melhorar a comunicação”.
Acredito que o uso ético da IA na comunicação interna exige mais do que boas intenções. Exige diretrizes claras, transparência com os funcionários e métricas que priorizem bem-estar e confiança, e não apenas eficiência. A personalização deve servir ao propósito coletivo da organização, e não à homogeneização ou à microgestão dos profissionais. A inteligência da comunicação precisa ser ampliada também no sentido humano — criando contextos de escuta ativa, diálogo bidirecional e cultura de aprendizado contínuo.
Para quem deseja explorar essa tendência com responsabilidade, recomendo o uso do ChatGPT como laboratório interno de linguagem e segmentação. É possível, por exemplo, testar diferentes versões de uma mesma mensagem para públicos variados — como equipes de vendas, TI ou RH — e avaliar qual abordagem gera mais compreensão e engajamento. A dica é usar o modo “Custom GPTs” para criar um perfil alinhado ao tom e aos valores da empresa. Com isso, a IA deixa de ser uma caixa-preta e passa a ser um parceiro editorial estratégico.
A transformação da comunicação interna com IA é inevitável — e pode ser positiva. Mas tudo depende de como ela será conduzida. Afinal, a mensagem mais poderosa em uma organização não é a que chega rápido, mas a que é entendida, compartilhada e respeitada.
A IA está nos ajudando a escutar melhor — ou apenas a falar com mais eficiência?
André Aguiar
👨🏽💼DMX Web Marketing | Agência Level | Professor Universitário
🎓Licenciatura em Matemática, MBA em Marketing Digital e Analista de Sistemas
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